O agronegócio brasileiro é reconhecido mundialmente pela sua força
25/04/2022 - 14:26
O agronegócio brasileiro é reconhecido mundialmente pela sua força, seja na qualidade e produtividade do campo como também no desenvolvimento de tecnologias, sistemas de produção e inovações tecnológicas que são adotados em todo o planeta. O agro se inventou, reinventou, superou e continua superando todos os obstáculos que se apresentam à sua frente.
Num passado recente os desafios pareciam restritos às decisões técnicas de produção, mas atualmente as exigências do mercado ultrapassaram as propriedades organolépticas do que se compra, levando o sabor e a boa aparência do produto a dividirem atenção com o seu processo de produção. Essa preocupação acabou por atravessar as porteiras e divisas da propriedade fazendo o consumidor questionar sobre o respeito às pessoas, ao meio ambiente e a consonância com os princípios básicos de governança corporativa. Sim, estamos falando de ESG (Environmental, Social and Governance) e falar desse tema é falar de governança, já que suas boas práticas criam um ambiente propício para que haja confiança com seus agentes internos e em todas as suas relações com terceiros.
As atenções com o meio ambiente e responsabilidade social já estão presentes no dia a dia do produtor, mas obviamente não são assuntos encerrados e sem necessidade de evolução, o próprio consumidor vem exigindo mais e atender a legislação trabalhista ou ambiental é o mínimo. A expectativa é que além de preservar se recupere o que foi degradado e que a empresa não olhe apenas para seus trabalhadores diretos, mas preocupe-se ativamente com toda a comunidade onde está inserida. Isso faz todo o sentido, já que é comum encontrarmos exemplos em que as fazendas ou unidades de produção concentrem a contratação de mão de obra, de fornecedores de insumos e prestadores de serviços, tornando-se a principal atividade econômica daquela região. Para se ter sucesso esses assuntos não podem ser tratados de forma isolada e a grande questão é: como conciliar tudo isso em um ambiente economicamente viável?
A governança é exatamente o que dá coesão a esses pontos e os inserem verdadeiramente nas decisões da empresa. No entanto, por ser um tema relativamente novo no campo das metas ESG para o agronegócio é comum que haja certa falta de clareza sobre o tema, confundindo-o com a criação de mecanismos de compliance que impeçam a prática de corrupção. Governança, no entanto, está muito além dessas preocupações ou decisões orçamentárias e de investimento. Ter uma boa governança é ter transparência em suas atividades, equidade em suas relações, responsabilidade corporativa e prestação de contas para seus acionistas e comunidade de forma a assumir a responsabilidade por seus atos e decisões.
Em pesquisa recente realizada pelo IBGC e pela KPMG com 367 produtores rurais brasileiros, os dados mostram que esse assunto vem tomando a pauta do agronegócio brasileiro e essa preocupação está diretamente relacionada ao tamanho da empresa e geração que está no poder. Assim, quanto maior o faturamento do negócio e a distância de seu fundador ou fundadora, maior é a disposição em tratar do tema da governança.
Compreender isso é relativamente simples. No campo econômico, faturamentos maiores significam maiores pressões de mercado e bancos para fechar negócios, emitir CRAs, conseguir empréstimos e financiamentos ou até mesmo realizar um IPO. Na gestão, o assunto é um pouco mais delicado já que a história comum de sucesso é a de superação de dificuldades com centralização de poder. Assim, se entender a necessidade de compartilhar o poder e o direcionamento estratégico de uma empresa já é difícil, aprofundar esse raciocínio traz à tona uma ideia nem sempre fácil de aceitar: é chegada a hora de se afastar e passar o comando às novas gerações.
Esse fato está demonstrado na mesma pesquisa citada, onde 54% dos participantes apontam que a necessidade de um plano de sucessão estruturado é a sua principal preocupação e 50% indicam ainda a necessidade de formalizar papeis e responsabilidades. Segundo Gabriela Baumgart, em outro estudo publicado em 2020 no IBGC sobre sucessão em empresas familiares, “o tema sucessão é muito discutido, mas nem sempre fácil de ser tratado com a profundidade que merece. Muito embora as pessoas saibam que não são eternas em suas posições, nem sempre estão preparadas para deixá-las. O processo quase sempre é abrupto e pega todos de surpresa.”
Tratar da governança, portanto, é agir no coração da empresa. Um assunto extremamente necessário, embora amplo e complexo. Para ter sucesso é preciso não apenas colocar o assunto na pauta, mas entender o seu momento. Há diferentes formas e caminhos a serem seguidos e o desafio está exatamente em construir essa estrada. “A governança é uma jornada, não um destino” e o agronegócio brasileiro vai encontrar o seu caminho.